14 de jul. de 2008

Geração Perdida

Há alguns anos atrás, há uns trinta anos atrás, um grupo de garotos e adultos esgueiravam-se por um muro que cercava um grande matagal e reuniam-se lá depois das horas mortas das noites. Voltavam perturbados ou calmos mas sempre aparentando normalidade dentro dos limites de suas próprias neuroses. O que ele faziam agrupados tão sorrateiramente naquele matagal? Fumavam maconha.

Só isso? Sim. Somente puxavam fumo, falavam de mulheres, brigas, perseguições e coisas que naquela época não podiam falar abertamente como um simples palavrão ou questões mais nebulosas da política do país ou mesmo do bairro. O medo era um grande olho fixo em cada um deles...

Eventualmente alguns roubavam o que estivesse ao alcance das mão ou até mesmo assaltava um tanseúnte. Meu pai foi um dos assaltados naqueles tempos. Eram marginais, homens simples e ignorantes na maioria das vezes, mas marginais. Gente que optou, pelo menos naquele momento, por seguir uma vida menos regrada e mais excitante. Gente que optou por não ter responsabilidades imediatas ou futuras e queimar a vida num trago furtivo durante a noite.
Mas que em determinado tempo, depois de passado os arroubos da juventude, acabavam num emprego, numa escola, numa família, integrados á sociedade e renegando o banditismo incipiente da maconha escondida.

Quase posso dizer..."Bons tempos aqueles..."

Hoje, o garoto enrrola a paranga enquanto anda na calçada em plena luz do dia. Acende seu cigarrão e fuma como se fosse um cigarro de tabaco qualquer vendido em caixinhas sedutoras. Muito pior que isso, ingressam facilmente em drogas mais fortes e perdem completamente a noção do juízo. Matam-se e morrem antes de atinar que esse caminho não dá em nada. Até porque, já existe uma sociedade permissiva e apológica que os envolve além dos limites da juventude inconsequente. Eles tem músicas, histórias, modelos, personagens e organizações criminosas para se sustentar. Viver bandido hoje é como ser um cidadão normal, honesto e trabalhador de trinta anos atrás. As músicas apresentam temas de violência e traição de formas pretensamente justificadas. Há hoje uma moral alterada, adaptada de dentro dos presídios e dos guetos mais violentos para a realidade do garoto de classe média que não trabalha e fica navegando pela internet. Essa moral da violência justifica o crime mesmo os cometidos por outros de outros poderes ou classes sociais.

Mas a apologia não para na violência. A sexualidade banalizou-se a tal ponto de um pai e uma mãe não perceber o conteúdo fortemente pornográfico das letras de muitos funks que a garotada de tenra idade baixam na internet ou ouvem em ráios piratas. Os "funks" apresentam letras de mau gosto recheadas de palavrões e obcenidades.( Quase me sinto obceno criticando isso! ) Na periferia das grandes cidades, a cultura virou de cabeça para baixo. Os movimentos de libertação que propunham mais cultura para o povo durante a abertura política da década de oitenta descambou para os bailes funks que tiram do povo o pouco que resta de seua cultura genuína.

O garoto de hoje não tem tempo para amadurecer. Passa da idade na casa dos pais alimentando-se de perversidades que a cultura tornou "glamourosa". E embriaga-se de drogas que o tiram o pouco que lhe resta de humano.

Posso estar escrevendo besteiras, mas daqui de dentro dessa realidade, só me resta pensar que toda essa geração está perdida!