7 de abr. de 2010

A vivência da Arte

A vivência da arte.
Certa vez, fizemos um trabalho de arte num bairro da periferia de São Paulo. Consistia de uma exposição em praça pública de obras que achávamos interessante de autoria de vários colegas. As pessoas paravam, olhavam, faziam perguntas, etc. Mas uma obra chamou a atenção em especial. Era um sapato velho, usado, com o bico aberto e completamente laceado pelo uso, colado sobre um fundo bege pintado de forma que a boca do sapato compusesse uma boca humana num rosto triste. O fascínio das pessoas comuns era imediato e muitos nem se quer comentavam aquela peça. Depois pensamos muito sobre aquela peça e chegamos a conclusão que o que mais saltava aos olho na peça era a sensualidade. O rosto composto com um sapato à guiza de boca tinha uma tristeza ofensiva porque sua expressão denunciava uma violência imposta pelo pé que antes ocupou aquele espaço agora da boca. Ou uma tristeza pela falta que aquela forma denotava. Ou seja, as pessoas vivenciavam uma experiência de sensualidade ao ver o sapato usado ainda na forma do uso. Porque era a única coisa que se destacava no quadro, já que o fundo bege era desenhado rudemente em traços frágeis e infantis. E porque sensualidade? Porque sapato velho havia em qualquer lixo ou calçada daquele bairro imundo. Simplesmente um outro uso da imagem trouxe o essencial daquela forma: a sensualidade.
E, embora a maioria das pessoas talvez não atinassem com isso, saímos com uma lição daquela empreitada:a vivência da arte é fundamental para a compreesão do mundo.